O presente texto reflete sobre a importância do património natural para a construção das culturas locais, seus patrimónios e consequente identidade. Reflete-se, no caso presente, sobre os ambientes cársicos da região. Efetivamente, os ambientes calcários (cársicos) – no caso presente, o Maciço Calcário Estremenho (MCE) – revelam uma singularidade ímpar quando estudados em termos geomorfológicos, ambientais, paisagísticos, sociais, culturais e patrimoniais, com influências determinantes no modo de vida das populações que os habitam, fornecendo contributos essenciais para a definição espacial dos territórios que abrangem. O MCE, eventualmente o mais importante conjunto calcário português devido à diversidade de formas estruturais, erosivas e cársicas que apresenta, é constituído por um bloco de calcários jurássicos onde predominam os calcários pertencentes ao dogger (jusássico médio) que se erguem por meio de imponentes falhas geológicas acima de áreas que se situam a cotas de aproximadamente 200 metros. Secundariamente, são ainda abrangidas formações modernas, detríticas e de terra rossa, nos vales e depressões fechadas. Recorde-se que foi a singularidade deste património geológico que esteve na origem da classificação de uma parte significativa do MCE como parque natural, em 1979, o PNSAC. Este ambiente é responsável pela existência de uma flora e fauna únicas no país. No caso das populações do MCE, e conforme acima referido, e base da presente reflexão, constata-se que a sua cultura está intimamente relacionada com a rocha calcária que predominantemente o compõe, tantas são as evidências e diversidade do seu uso, considerando-se mesmo a existência de uma cultura da pedra. O expoente máximo desta relação está expresso no grandioso património construído, algum do qual classificado como património mundial pela UNESCO.